Uma amiga voltava da noitada com o namorado quando, ao tentar entrar em casa, percebeu que não estava com a chave, tinha perdido. Pediu que o namorado quebrasse o visor da porta (um pequeno retângulo de vidro), colocou o braço pelo buraco e destrancou com a chave que ficava na fechadura do lado de dentro. Já estavam de pijama e camisola quando a campainha começou a tocar. Era a polícia. "Nós vimos vocês arrombando a porta!"
Como, se não tinha ninguém na rua?
Esse poste aí na esquina da casa dela tem no topo uma das cerca de 5 milhões de câmeras de vigilância (públicas e privadas) espalhadas pelo Reino Unido, 12 para cada habitante. O sistema é chamado de CCTV (Closed Circuit Television) e incomoda um bocado os britânicos que se orgulham do histórico de luta pelos direitos civis (se fosse na Sapucaí, a Magna Carta já estaria na boca do povo: "e a Magna Carta? aaaaahhhhhh a Magna Cartaaaaa, calma lá ó rei Joãoooo...").
Comparações com o Big Brother do livro "1984", de George Orwell, e manifestações artísticas criticando o sistema são frequentes. A última casa de Orwell fica em Canonbury Square, em Islington, e bem próximo da placa redonda que informa que ali morou o escritor há centenas de câmeras mirando tudo e todos.
Esse grafite aí embaixo é obra do Banksy (conheçam, sensacional). O cara esperou a madrugada e fez tudo nas barbas da CCTV.
Os Pet Shop Boys acabaram de lançar "We're all criminals now". Neil Tennant, o vocalista, comentou: "Estamos todos sob vigilância constante, como se fôssemos criminosos. Somos tratados assim, mas tudo acaba com um inocente baleado pela polícia. A música é sobre a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, câmeras de vigilância e o fato de termos que dar a impressão digital feito criminosos quando viajamos para os Estados Unidos."
Trecho da letra: "Waiting for a bus in Stockwell, cameras on my back, suddenly hearing sirens, sounding a panic attack. (...) Got the bus to the station, music playing in my head, ran to get on the tube train, police shoot someone dead."
O apoio ao CCTV aumentou consideravelmente após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York, e 7 de julho de 2005, aqui em Londres. O argumento normalmente é: se não faço nada de errado, não tenho motivo para ser contra, e me sinto mais seguro com as câmeras.
Na cadência do medo, o show de Truman segue em frente. O melhor é não perder a chave de casa.
20.3.09
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"Não vai dar uma de Jean Charles!" - entreouvido por aí...
ReplyDeleteMuito maneiro esse site do Bansky. Conhece o Edgar Muller?
- http://www.european-street-painting.com/
- aqui tem making ofs: www.metanamorph.com/
Beijos e até!
Não conhecia, não. Valeu a dica. Beijo!
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